18 abril 2009

O Cultivo de Água e o Sr. Zephaniah Phiri Maseko do Zimbábue

http://proxied.changemakers.net/journal/00march/zaidman.cfm Tem também este outro texto que achei na internet: Enquanto viajava pela parte sul da África neste verão , (1995), ouvi falar de um homem que cultivava a Água....
... O ônibus adentrou vagarosamente a campina seca e parou no lugarejo rural de Zvishavane... No jipe atravessamos a solavancos as estradas de terra erodidas rumo a sua propriedade, enquanto Sr. Phiri falava, ria, e gesticulava, contando infindaveis analogias e historias poeticas. A melhor historia de todas foi a dele. Em 1964 foi dispensado do seu emprego na ferrovia por estar politicamente ativo contra o governo branco rhodesiano. O governo alertou que nunca mais trabalharia em nenhuma funcão. (o Sr. Phiri foi preso e torturado por sua luta contra o Apartheid da época) Tendo que sustentar uma familia de oito, Sr. Phiri recorreu as duas coisas que tinha: uma propriedade familiar de 3 hectares, e a Biblia. Ele nao usa a Biblia somente como guia espiritual -- usa como manual de jardinagem. Aa ler a Genese, viu que tudo que Adao e Eva precisavam era suprido pelo jardim de Eden. " Assim", pensou Mr. Phiri, "preciso criar meu proprio Jardim de Eden". Mas Sr. Phiri se deu conta que Adao e Eva tinha os rios Tigres e Euphrates na sua regiao. Nao tinha nem sequer um riacho intermitente. "Entao," pensou Sr. Phiri, "preciso tambem criar meus proprios rios. " Ele fez ambos.A sua propriedade se localiza nas encostas de uma colina, frente ao norte-nordeste. No topo da colina se encontra um afloramento grande de granito do qual a água das enxurradas escorre livremente. A precipitação anual media eh de 570 mm ( um pouco acima de 22 polegadas), mas como Sr. Phiri, aponta, isso é uma media baseada em extremos. Muitos anos são de seca, quando a terra tem sorte se recebe 12 polegadas ( 270 mm) de chuva. No começo era muito difícil que as culturas se desenvolvessem, muito menos lucrar delas, devido às secas freqüentes e falta total de equipamento ou capital para irrigar a partir do lençol freático. Ele dedicou tempo observando o que acontecia quando de fato chovia. Em pequenas depressões e no lado superior das rochas e das plantas, a umidade do solo durava mais do que em áreas onde a água escoava livremente. Assim começou a auto-educacao e o trabalho de coleta de água de chuva . Ao longo de 30 anos Sr. Phiri criou um sistema sustentável que preenche todas as suas necessidades em água unicamente da chuva.
"Você tem que começar a captação no alto, e sarar as voçorocas jovens antes das velhas e profundas rio abaixo," diz Sr. Phiri. Começando no topo da divisória de águas ele construiu muros de pedra seca aleatoriamente mas nas linhas de contorno. Tendo funções similares aos gabioes [cestas quadradas de arame preenchidas de rochas utilizadas para captar água e sedimentos em grandes voçorocas, nota da tradutora] , estes muros diminuem a velocidade do fluxo de água de tempestades , esta atravessando lentamente os espaços entre as pedras. Assim amansa-se o fluxo de água saindo da redoma do afloramento de granito , direcionando-a para reservatórios permeáveis, que, como tudo na propriedade, foram construídas com ferramentas de mão e o suor de Sr. Phiri e suas duas esposas. O maior dos dois reservatórios ele chama do seu centro de imigração. "Eh aqui que dou as boas-vindas para a água em minha propriedade e depois a direciono para onde residira no solo" , ele explica, rindo. "O solo," explica, "é como uma lata. A lata precisa segurar toda a água. Voçorocas e erosão são como buracos na lata que permitem que a água e a matéria orgânica escapem. Estes precisam ser tampados." O " centro de imigração" de Sr. Phiri serve também de medidor de chuva, porque sabe que se encher três vezes durante uma estação, infiltrou chuva suficiente ate o lençol freático para durar dois anos. O reservatório menor direciona a água via uma manilha para uma cisterna livre de ferrocimento que alimenta o quintal durante as secas. Tem outra cisterna de ferrocimento, sombreada por um pe de maracujá luxuriante, que capta a água do telhado. Alem destas duas cisternas , todas as estruturas de captação de água na propriedade visam infiltrar a água no solo o mais rápido possível. Perto da casa ha uma pia externa onde as águas servidas escoam para uma cisterna subterrânea , forrada de pedras secas, onde a água rapidamente infiltra. Do topo da divisória de águas ate o fundo existem varias estruturas para a captação de água como represas de retenção, gabioes, terraços, valas de infiltração ( "swales"), e "covas de fruição". O governo colocou valas de escoamento na região toda muitos anos atrás, mas estas foram feitas fora das linhas de contorno para acabar com a erosão em laminas, levando a água das tempestades para um dreno central. O problema de erosão resolveu-se, mas as terras acabaram sendo roubadas da sua água. Assim, Sr. Phiri cavou grandes "covas de fruição" 10X 6X 4 pés no fundo de todas as suas valas. Quando chove, a água enche a primeira cova e o excedente enche o seguinte , continuando assim ate os limites da propriedade. Muito depois o fim da chuva, a água continua nas covas, infiltrada no solo. Em volta das covas capins grosseiros são cultivados para controle de erosão, para cobertura das casas, e venda. Muitas arvores de fruta vigorosas foram plantadas por Sr. Phiri ao longo dessas valas para fornecer alimentos, sombra, e quebra-ventos. São alimentadas estritamente pelas chuvas e o lençol freático, que vai se aproximando a superfície. Como Mr. Phiri explica: "Cavo valas e covas de fruição para plantar a água para que possa germinar em outro lugar." " Ensinei o meu sistema as arvores,"continua. "Elas entendem-no e aa minha linguagem. As coloco aqui e digo 'Olha, a água esta aqui. Vão a procura." Nenhuma bacia nem divisória para segurar ou negar a água é colocada em volta delas; as raízes são encorajadas a se esticarem e encontrar a água. Uma mistura diversa de culturas nao-hibridas como abóbora, milho, pimenta, berinjela, taboa para cestas, tomate, alface, espinafre, ervilha, alho, feijão, maracujá, manga, goiaba, e mamão, juntamente com arvores nativas como matobve, muchakata, munyii, e mutamba são plantadas entre as valas. Esta diversidade oferece segurança alimentar porque na falha de alguma cultura devido a seca, doença, ou praga, outras sobreviverão. A utilização de culturas nao-hibridas garante que Mr. Phiri possa colecionar, selecionar, e utilizar as suas próprias sementes de um ano para outro. Há uma abundância de plantas fixadoras de nitrogênio. Guandu é um exemplo, e serve também para forragem e cobertura morta. Sr. Phiri percebeu que solos fertilizados quimicamente não infiltram nem seguram água muito bem. Como diz: "Você aplica o fertilizante um ano, e não no ano seguinte, as plantas morrem. Você aplica esterco e plantas fixadoras d e nitrogênio uma vez, e as plantas continuam a prosperar vários anos em seguida. Solo fertilizado quimicamente é amargo."
Os alimentos e as frutas que Mr. Phiri produz estão longe de serem amargos. Ele tem sido generoso na sua abundancia, dando mudas de arvores para quem quisesse. Infelizmente, como ele mesmo aponta, a maioria das arvores que ele doa morrem se não foram implementadas as técnicas de coleta de água a ntes do plantio. Ele propaga as arvores em sacos velhos de arroz e grãos perto de um dos poços a céu aberto no fundo da propriedade. Ele descreve os poços com outra analogia: "A água é como o sangue -- é sempre atraída à ferida. As voçorocas são feridas. O sangue vai ate a ferida para saná-la. Se faz com gabioes e valas de nfiltracao onde a voçoroca se enche de solo fértil." Com este conhecimento Mr. Phiri cavou três poços no fundo da sua propriedade sabendo que a água coletada no seu terreno infiltraria no solo e achar seu caminho ate as feridas no fundo da propriedade. O solo é sua bacia de captação. Nos tempos da seca, os poços dos vizinhos secam (mesmo aqueles mais profundos do que os dele) mesmo assim os seus poços sempre contem água "dentro da qual posso mergulhar meus dedos", porque ele repõe de longe mais água dentro do seu solo. Com a exceção de um poço que é forrado e munido de uma bomba manual para água de uso domestico, os outros são forrados com pedras secas. "Estes poços" ele explica, "são aqueles do homem generoso. A água vem e vai como quiser, porque , como você vê, no meu terreno ela se encontra em todo lugar." Em tempos de seca severa, Sr. Phiri tira água destes poços para irrigar culturas anuais nos campos vizinhos. Ele utiliza uma bomba conhecida como Shaduf Egipcio, que não passa de uma bomba manual que utiliza um pneu velho de trator para bombear a água. Uma manivela abre e fecha a bexiga (o pneu) como um acordeão, criando a sucção necessária. Um brejo natural luxuriante se encontra abaixo dos poços no ponto mais baixo da propriedade. Aqui Sr. Phiri pratica aqüicultura em três reservatórios. Conforme os dois menores vão secando, os peixes são coletados ou realocados ao grande. É aqui onde Sr. Phiri instalou uma plantação densa de bananeiras! Terras secas de todo lado, mas na sua propriedade uma floresta de bananeiras! Cana de açúcar, taboa, e capins como capim elefante também são plantadas nos embancamentos para segurar o solo. O gado se beneficia desta vegetação densa, plantadas para filtrar a água antes que entre no reservatório. Esta forragem nobre é reservada para as vacas prenhas. No começo Sr. Phiri era obrigado a aparecer diante do tribunal três vezes por violação das leis que proíbem cultivação nos brejos. Estas eram leis dos tempos coloniais. Finalmente, na terceira audiência, ele conseguiu convencer o juiz a visitar a sua propriedade. Ao ver o trabalho feito, o juiz arquivou a denuncia na hora. Dentro do solo desta propriedade jazem os rios Tigirs e Euphrates; os reservatórios são onde vem à superfície. O ciclo do Jardim de Éden de Sr. .Phiri, que começa a ser percebido depois de 30 anos de obscuridao e as vezes desprezo, continua a crescer. Das ultimas três décadas ele diz: "Claro, é um processo lento, mas é a VIDA. Lentamente implemente os projetos, e conforme a sua vida comece a rimar com a Natureza, logo outras vidas começam a rimar com a sua." Ele, em conjunto com a ONG que criou, O Projeto Zvishavane de Recursos Hídricos "( Zvishane Water Resources Project), espalham suas técnicas. Ele influenciou CARE Internacional na sua região ao ponto de, em vez de distribuir alimentos, eles agora implementam os seus métodos para que as pessoas possam plantar seus próprios alimentos. Ele tem visitado escolas onde os professores estavam em greve devido à falta de água e às condições difíceis em salas de aula empoeiradas e sacudidas pelos ventos. Ele ensinou os professores e estudantes como colher a água da chuva, e juntos transformaram as escolas em jardins luxuriantes, eliminando o motivo de greve. "Lembre que as crianças são as nossas flores, "diz Sr. Phiri, "de-lhes água que crescerão e florescerão." O projeto de Mr. Phiri trabalha localmente ( uma grande razão pelo sucesso)... por Brad Lancaster, tirado da internet. Nota: o senhor Phiri faleceu há alguns anos.