25 fevereiro 2007

Ressaca

Meio dia. Estou quase cego. Viro uma nuvem de morcegos vermelhos sobrevoando árvores secas. Ainda consigo ver vultos entre garrafas abandonadas. Uma rocha em estado liqüido, tateio um cu piscando antes. Um balaio de crianças vorazes se derramou na praia chutando as nuvens. Um anjo beija minha testa fazendo um a u no ar e some no brilho ofuscante do sol. Já li isso antes. De frente pro palco de areia uma touceira de palmeiras falantes sai acelerando bêbada e soca uma senhora no corredor da fila c. fhc, tbc, thc eu não disse isso, não vi nada, não ouvi nada. Sou um túmulo em ruínas. Delicadeza trabalhada por erosões e picaretas sutis. Uma falésia dançando. Escapam gases de minhas rachaduras. No alto de estátuas de madeira brotam flores, árvores. Os porcos e as porcas se perderam, mas já estão chegando. Ficaram os parafusos e as ruelas espalhados no asfalto da proesia, bezerrona mamona na brasília amarela.