27 dezembro 2006

sobre tiranias e crueldades

pinochet na Missa, setembro de 1973

O exército chileno se recusa a guardar as cinzas de Pinochet. No Brasil cidadãos são queimados vivos, dentro de carros, ônibus. Quando criança passei meses preso num campo de refugiados no Chile de setembro de 1973 a 19 de janeiro de 1974. até sermos resgatados por um grupo da ONU, formado em parte por ex-combatentes da resistência holandesa contra o nazismo. Cujo trabalho era justamente esse, retirar pessoas ameaçadas de lugares onde imperavam a tirania, a guerra, fria ou não. No Brasil a ditadura fazia as coisas mais escondidas, costumavam "suicidar" as pessoas, como fizeram com o Vladimir herzog, Rubens Paiva e tantos outros. Frei Tito escapou vivo da prisão, mas não aguentou as lembranças da tortura e se matou "ele mesmo". foi nos visitar na Holanda um pouco antes de morrer. Aqui no Brasil a crueldade se disfarçava. Não enchiam os estádios de prisioneiros políticos e fuzilavam na frente de todos como aconteceu em Santiago. Fuzilamentos que parecem fichinha perto das execuções que tenho tido noticias agora no Brasil. Os bandidos, de qualquer classe estão apelando, principalmente os filhos da favelização e da ganância. Será esse fogo um reflexo de décadas de abandono social, de impunidade, corrupção dos poderes, da moral ou simplesmente filha da putice extrema:queimar pessoas vivas dentro de carros e ônibus? voltando à história, os holandeses foram lá, fizeram uma entrevista, conseguiram um avião e tiraram a gente de lá com passaportes da ONU. antes disso presenciei tiroteios e nossa casa sendo invadida por um caminhão de carabineros(soldados). Meu pai ficou muitos dias sumido no estádio de concepcion logo após o golpe. Conseguiu escapar por um anjo, uma amiga dele com o mesmo sobrenome, conhecida de um embaixador que conseguiu convencer o comandante do campo de concentração a mandar a família toda para um campo de refugiados, mais light, com celas (era um antigo convento) para cada família. foi lá que tive a minha primeira comunhão (eu e outras crianças roubávamos hóstias da capela abandonada pra matar a fome) e a primeira febre tifoide. Continuo tentando escapar das tiranias, quentes ou frias. Sinto elas por perto.

camões baby

light my fire?