23 janeiro 2007
Os desafetos do escritório, de Karen Debértolis
Um texto Perfeito. "Escrito pra mim". De desopilar o Fígado e curar qualquer síndrome do pânico.
Certamente se n. tivesse me ajudado eu não estaria agora nesta situação, assim, como numa encruzilhada. Isto porque se for pensar bem a falta de atenção com a qual p. me tratou. É, se os dois tivessem me ajudado, pelo menos, com alguns poucos números da agenda de endereços, alguns telefonemas, um sorriso. Mas o que talvez tenha significado o total desrespeito foi a rasteira imoral provocada por e., aquele salafrário. Numa noite qualquer aquele e-mail cínico na minha caixa postal. Pior mesmo foi n. não me falar sobre aquela vaga, justamente para a minha área, que abriu no escritório na Rua das Vieiras. É, depois teve a petulância de me chamar para uma peixada. Mais indecente ainda foi l., dispensada do emprego logo depois de me promover. A promoção? Só ela sabia da maldita na repartição. Parece mesmo perseguição, mas na seqüência a outra l. , de cabelos compridos e lábios grossos, indicou outro indivíduo para fazer o imposto de renda daquela empresa de pesquisa. É uma desgraça mesmo. Ainda antes teve a história com p.. Aquele sim, um sacana. Anos antes tinha me arrumado um trabalho em que os mandantes me deram o calote (sim, porque eram realmente uns bandidos e até hoje nem sei direito do que se tratavam aqueles cálculos). Da última vez, era um dos jurados do concurso anual dos contadores mais honestos do ano. Eu era um dos finalistas, ele foi apontado como um dos infratores da banca. Sim, claro, d. , também estava, mas desta tenho dó. É, realmente isto não foi nada diante da empáfia de r. em me difamar. Sempre a mesma história pelas costas. A acusação de ter aprovado contas não tão corretas. Ele, que faz vistas grossas às licitações municipais. Ele, que anda aos cochichos com assessores suspeitos. E o que falar de c., a megera com sua cabeleira crispada pelos pensamentos vis. Mulher de maus hábitos, que se acoxava a homens rudes, de odor pestilento, que comiam costelas gordurosas com as mãos sujas de graxa e com seus dentes à mostra. Sim , não nos esqueçamos de v., talvez o pior da lista. O mais ordinário dos homens que esta terra viu nascer. O mais indisfarçado dos malandros, o mais desonesto dos homens corretos de nossa sociedade, o mais inculto dos eleitos pelas academias. Este que me classificou de torpe, que me acusou antes mesmo de ter provas, que me apontou como o corrupto diante de situação nenhuma. Este que ri como hiena, que se porta como um galo empedernido, mas que é um mandraque. E o que podemos dizer de g., falso e vil. Que se compraz em torturar seus pacientes de quem usurpa até os últimos níqueis. Tão asqueroso e imundo de pensamentos quanto b., que mais parece um bobo da corte de músculos. E a lista segue consistente. Mesmo não tão perigosa, é preciso tomar cuidado com o sorriso afável de s..Com certeza, é o mesmo caso de a. que me infernizou com suas ironias. Ou como l., o que não tem cérebro, e patenteia até mesmo a marca alheia em seu próprio papel higiênico. Meu deus, não posso deixar de citar o mais imundo dos seres. Justamente, f., o dos processos judiciais. Aquele que se passa por injustiçado, discriminado, incompreendido. Aquele que copia: idéias, maneiras à mesa, papéis, riscos sinuosos, indisfarçadamente. Antítese de r., que conversa com sua própria mão, por considera-la, ele mesmo, a de anatomia mais perfeita deste planeta. E o grande plagiador m., então, que se associa a pilantras para usurpar palavras? A ele, os nossos aplausos pela maestria com a qual escava as narrativas alheias. Mas, o que me enoja mesmo é encontrar com z., que diz que é só amigo de e. É demais mesmo! O pior é w. na mesa do canto da sala com aquele olho esbugalhado sobre nós e dizendo que não nos vigia. E aquela s., cada dia fico mais à espreita. Inconfiável. Mas, eu ia me esquecendo de j.. Depois que arranjou aquele empreguinho no escritório de baixo, ficou muito arrogante. Que inferno está se tornado este prédio. Aqui da minha mesa, posso ouvir um ignorante que grita impropérios à secretária. Como é de praxe, os medíocres têm que tornar pública a sua burrice. Eu já fiz a minha mala, comprei uns explosivos que devem ser suficientes. A cada olhar l. parece adivinhar meus segredos. Tenho planos, para bem longe. Nunca mais quero me referir a estes monstros. Vou sair de fininho e deixar um bilhete sombrio no colo de s. , aquele que me interroga com seu cinismo toda a manhã quando passo pela portaria. Já encaminhei os papéis perigosos que c. guardava no fundo falso da mesa. Uns homens engravatados virão vasculhar o seu armário daqui a dois dias. Talvez não restem muitas letras depois. Vou deixar uma flor, de plástico, é claro, dentro do pote de canetas da minha escrivaninha. Nem abelhas, nem inseto algum que habita este espaço infétido irão aproximar-se. Mas a presença insistente, distante, tão falsa da flor, irá retalhar o coração de m. , aquela farsante, que me negou o amor.
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